quinta-feira, 26 de junho de 2008

Revisão de entrega - Quando o zero parece usado

Apesar dos cuidados por parte dos fabricantes, muitos carros ainda saem das linhas de montagem com diferentes tipos de problemas, causando transtornos aos consumidores Houve um tempo em que carro zero era sinônimo de ausência de problemas. O cidadão comprava o automóvel e passava um bom tempo sem passar pela oficina. Mas, com o aquecimento do mercado de veículos, as fábricas estão produzindo a toque de caixa, e muitas vezes o controle de qualidade acaba falhando. É cada vez mais comum ver carros zero saindo de concessionárias com diferentes tipos de inconvenientes, deixando o consumidor irritado. As montadoras e revendas procuram minimizar o problema fazendo a revisão de entrega, mas não conseguem evitar os defeitos.Os transtornos com o carro zero são os mais variados possíveis: defeitos na pintura, alarme que dispara, ruídos no painel, bomba de óleo que não funciona, lâmpadas queimadas etc. O caderno Veículos recebe regularmente cartas de leitores que revelam seus aborrecimentos depois da compra do carro zero. Foi o que ocorreu com Gilmar Teodoro Carvalho, que comprou um Palio Fire com sinais de verniz escorrido na pintura. Ele reclamou e a concessionária concordou em fazer um retoque, mas Gilmar não permitiu porque achou que seu carro ficaria desvalorizado.Confira mais casos no Veja Também, no canto superior direito desta página!Maria Alice de Morais Fonseca comprou um Volkswagen Polo zero, que depois de 6 mil quilômetros apresentou defeito na embreagem. Por mais que o fabricante queira justificar o problema pelo mau uso por parte da consumidora, é difícil acreditar que um sistema de embreagem apresente defeito em tão pouco tempo. Outra que teve transtornos com o carro zero foi Roberta Carneiro Abdala, que comprou um VW Fox e mandou instalar o alarme na concessionária da marca, acreditando que assim estaria se resguardando de eventuais problemas. Mas ela foi obrigada a voltar três vezes à revenda autorizada por motivo de pane elétrica e o problema só foi solucionado quando Roberta pediu para retirar o alarme.Pente fino Fabricantes e concessionárias se defendem alegando que fazem de tudo para evitar os problemas nos carros novos. O engenheiro Carlos Henrique Ferreira, da Fiat Automóveis, explica que, antes de chegar às mãos do consumidor, o carro zero passa por rigorosa revisão de entrega, que tem como objetivo principal detectar possíveis defeitos. Ele informa que o processo é complexo, pois, ao chegar no fim da linha de montagem, o carro traz vários sistemas já montados dos respectivos fabricantes. "O painel de instrumentos, por exemplo, já chega com ar-condicionado, equipamento de som, comandos de luzes e outros. Tudo testado eletronicamente pelo fabricante", revela o engenheiro. Ao chegar na fábrica, o painel é montado no carro e recebe o chicote.No final da linha de montagem, o carro passa por um check eletrônico. Um aparelho identifica a unidade e testa vários componentes, como faróis, lanternas, abre e fecha vidros elétricos, e depois emite um relatório. Carlos Henrique informa que, depois de sair da linha de montagem, o carro passa por um teste hídrico: jatos de alta pressão de água testam a vedação das borrachas. Já na pista de testes, o veículo é submetido a várias situações em diferentes pisos e manobras. Sempre com o hodômetro ligado. Por isso os carros costumam sair das concessionárias com cerca de 10 quilômetros rodados.O engenheiro da Fiat informa ainda que na Unidade de Entrega de Veículos ao Cliente o carro recebe uma 'certidão de nascimento', que é um livro com todas as etapas de produção. Com esse documento, o piloto de teste confere todos os detalhes, para depois ser feito o check-up visual e de emissões. Em cada etapa, o veículo recebe selos de aprovação e sai da fábrica com cera protetora na pintura e plástico nos bancos.Na concessionáriaDepois de ser encaminhado para o pátio da fábrica, o carro entra na logística do transporte, fase na qual podem ocorrer danos, principalmente na pintura. Já na concessionária, antes de ser entregue ao comprador, o veículo passa por outro check list, com verificação de nível de óleo do motor, água do radiador, pressão dos pneus, carga de bateria e outros. Equipamentos como macaco e extintor de incêndio também são conferidos. De acordo com Carlos Henrique, na concessionária o carro é suspenso no elevador para que sejam checados alguns itens, como nível do óleo da transmissão e freios. São testados também o câmbio, ar-condicionado e sistemas elétricos e eletrônicos.Mesmo com todo esse cuidado por parte de montadoras e concessionárias, muitos veículos zero continuam chegando aos consumidores com defeitos. "O carro é muito complexo, pois tem vários sistemas, e por mais que tentamos eliminar os erros alguns acabam passando. Sem falha é difícil", diz o engenheiro da Fiat. Ele lembra que muitos problemas são descobertos ainda dentro da fábrica, com solução imediata. Quando o defeito é detectado na revenda, o fato é comunicado on-line à montadora e o reparo é feito em garantia, ficando tudo registrado. Mas nem sempre a solução é rápida e satisfaz o comprador.Para controlar o problema, Carlos Henrique informa que as montadoras fazem uma pesquisa junto aos compradores de carro zero, denominada New car buyers. Os clientes são entrevistados três meses depois da compra, depois no sexto mês e, por fim, ao completar um ano. Por meio dessa pesquisa, as empresas detectam possíveis problemas e têm um controle estatístico de cada um. Além disso, de acordo com o engenheiro, existe ainda a preocupação de desenvolver novos projetos que reduzam a possibilidade de falhas. Enquanto isso não é feito, cabe ao consumidor ficar atento e reclamar seus direitos, pois carro zero com defeito não dá!Risco à pinturaO consumidor que compra um carro zero deve entender que defeitos em componentes mecânicos, elétricos e eletrônicos podem ser facilmente solucionados. Motor, transmissão, freios, central eletrônica, bateria e outros podem ser substituídos sem que o carro perca as características originais e se desvalorize no mercado de usados. Mas se houver dano na pintura, nenhuma concessionária ou oficina especializada terá condições de deixá-lo como novo. Na fábrica, o processo de pintura é feito por eletrólise, com a carroceria sendo submersa em um tanque para evitar corrosão. Por isso, em caso de danos na pintura, o comprador deve fazer valer seus direitos, exigindo um carro novo.

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