quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Plecinho camalada


Peças chinesas chegaram com preços muito baixos e qualidade nem sempre confiável. Mas nem todas são descartáveis
Elas vieram aos poucos, e conquistaram seu espaço nas prateleiras com preços agressivos. E assustaram as empresas de autopeças, que pediram salvaguardas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e à Receita Federal, especialmente para baterias, rolamentos e cruzetas. Uma das idéias é aumentar a alíquota de importação, atualmente em 11%.
Como elas estão presentes em várias seções das lojas – de fusível a rolamentos –, quem não perguntar ao balconista pode nem desconfiar da origem chinesa. Somente quando souber o preço. Mas qual a mágica para vender mais barato que as nacionais, mesmo recolhendo imposto de importação? Uma explicação está no custo da mão-de-obra por lá, que é baixo. Veja o exemplo: segundo o engenheiro mecânico Rubens Venosa, consultor da Autoesporte, uma bomba de água chinesa para o Jeep Cherokee entra no país para o fornecedor por US$ 20 (cerca de R$ 36), custando US$ 7 (R$ 12) na China. A original não sai por menos de R$ 3 mil.
Como tudo que é novo, as peças chinesas causam confusão e dúvidas, mas despertam curiosidade. O guia de turismo Santiago Matias, de São Paulo, foi um destes curiosos, e colocou um atuador de marcha lenta chinês em seu Renault Scénic. Mas se arrependeu: “Em pouco tempo começou a oscilar e o motor morreu algumas vezes. Meu mecânico, então, trocou por um americano, e voltou a funcionar perfeitamente. Tudo indica que foi a qualidade da peça, que pretendo devolver porque tem garantia de um ano”, conta.
Guilherme Turquetto, vendedor da Autopeças Disco Freio, em Jundiaí (SP), por sua vez, defende as peças orientais: “Aqui sai muito rolamento para veículos pesados. Os donos de veículos de passeio ainda resistem um pouco, mas começam a comprar”, afirma. Segundo ele, a loja trabalha muito com a ZWZ, uma das maiores empresas de autopeças da China. “Tem boa qualidade e durabilidade. Nunca tive reclamações”, garante.
Rubens Venosa concorda. “Nem tudo que vem da China é ruim”, afirma. Antônio Carlos Bento, coordenador do Grupo de Manutenção Automotiva, órgão ligado ao Sindipeças, também: “Sou ex-funcionário de uma multinacional de autopeças, e sei que muita coisa de lá tem qualidade”, explica. Tanto que a GM adotou pneus chineses Champiro para as linhas Celta e Prisma, enquanto a Fiat anunciou que irá importar pneus e rodas de liga da China, pois são até 20% mais baratas.
O baixo preço das peças chinesas criou ainda uma prática questionável nas oficinas, mesmo as com boa reputação: segundo Venosa, oficinas que prestam serviço para autorizadas colocam as chinesas em usados “totalmente revisados”. “Como o dono vai saber disso?” Para ele, é uma aposta: caso a peça dê problema dentro dos três meses de garantia, trocam sem questionar, pois ainda têm margem. Se não der, ótimo. O problema fica para você no futuro.

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