sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tempestade & bonança

O setor automobilístico amargou prejuízos durante muitos anos. Mas quem apostou numa virada não se arrependeu

Depois de jejuar por décadas, o mercado de automóveis viveu momentos de euforia na década de 90. Tudo começou em 1990, quando o então presidente Fernando Collor derrubou as barreiras alfandegárias. Quem nunca comeu melado da primeira vez sempre se lambuza: o festival de importados deslumbrou o consumidor, que não hesitou nem em comprar o russo Lada, pois faltavam compactos nacionais baratos. E marcas de prestígio, mesmo oneradas com elevadíssimos impostos de importação que triplicavam seu preço no Brasil.Alguns anos depois, as quatro marcas aqui instaladas (e que faziam gato e sapato do mercado) tiveram que repartir o bolo com uma leva de multinacionais que decidiram estabelecer fábricas no Brasil.Mas o mercado que desabou em 1998, e o dólar, que disparou em 1999, foram suficientes para desanimar várias delas. O setor amargou anos de prejuízos num mercado retraído, que foi se recuperando lentamente, demorou quase 10 anos para voltar aos patamares registrados em 1997. Foi o período das decepções e defecções. Vários modelos deixaram de ser importados ou produzidos aqui: Alfa Romeo, Lada, Suzuki, Mazda, Mercedes Classe A, Dodge Dakota, Audi A3 e Land Rover.Mas quem pagou para ver não se arrependeu. Nos últimos três anos, o setor não pára de bater recordes. Vamos ultrapassar - em 2008 - o patamar de 3 milhões de unidades produzidas e estamos próximos de assumir a quarta posição no ranking da indústria automobilística mundial.Mas, há sempre uma defasagem entre a evolução do mercado e a decisão das empresas de investir na atualização da linha. No Brasil, a moeda fortemente valorizada complica ainda mais o investimento, pois as importações são muito atrativas. A conseqüência é óbvia: lançamentos "meia-boca" e modelos nacionais defasados em relação ao primeiro mundo.Aqui, a Volkswagen deu um tapa no Golf de quarta geração, enquanto na Europa já se anuncia a sexta. A Kombi dispensa comentários...A GM acaba de pendurar adereços na velha S10 (e Blazer) para garantir sua liderança no segmento de picapes. A Fiat ainda faz sucesso com o Uno Mille e mantém o Stilo, que já foi abandonado há tempos na Itália.A Peugeot apresenta um 207 de mentira, nada a ver com seu xará francês, pois não passa de um bem aplicado bisturi no 206. A Ford insiste na primeira geração do Focus, enquanto o motorista europeu já roda na terceira. Clio e Scénic produzidos aqui estão aposentados pela Renault na França.Mas o fôlego novo na economia, a reviravolta do mercado e os resultados financeiros positivos incentivaram as matrizes a aprovarem ampliações de fábricas, criação de centros de estilo e de engenharia. Novos investimentos no setor são anunciados quase diariamente na imprensa.Ganha quem apostar que vamos passar - a médio prazo - por uma fase de muitas novidades e um realinhamento da indústria automobilística brasileira com a modernidade do setor.

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