sábado, 9 de outubro de 2010

Comportamento - O peso da grife

Lançamento de versões de entrada pelas marcas importadas premium, com lista mais reduzida de equipamentos, tem atraído consumidores de carros topo de linha nacionais

Fotos: Jair Amaral/EM/D.A PRESS

Quando descobriu que, com R$ 82 mil, seria possível comprar um Volvo zero quilômetro, o comerciante Fernão Dias teve a certeza de que o momento de comprar seu primeiro carro importado havia chegado e resolveu trocar o antigo Focus por um C30. “O que me atraiu foi a possibilidade de ter um carro importado pelo mesmo preço de um nacional”, explica. Algum tempo depois, seduzido pela novidade da Ford, o comerciante voltou à marca do oval azul e comprou o novo Focus 2.0. Mas, como já havia experimentado um carro sueco, não se acostumou com o nacional, que havia custado quase o mesmo de um importado de entrada. Sua escolha foi, então, o Audi A3 Sportback, que custou R$ 120 mil.

A troca de carros de fabricação nacional por importados de entrada de marcas premium já é uma tendência sentida pelo mercado. Depois do reposicionamento de preços de alguns modelos da Mercedes-Benz, a concessionária que representa a marca em Belo Horizonte observou um crescimento de 200% nas vendas dos modelos de entrada, que custam até R$ 120 mil. Segundo o superintendente da concessionária, Rodrigo Salgado, esses modelos são responsáveis por 60% das transações e metade delas são trocas de carros nacionais. “Na maioria são proprietários de Corolla e Vectra, que chegam em nosso show-room pela primeira vez e são surpreendidos com as condições de pagamento que possibilitam a troca por um de nossos modelos de entrada”, diz. O modelo mais em conta da Mercedes no Brasil é o monovolume Classe B-180, que é vendido por R$ 89,9 mil, enquanto o Chevrolet Zafira Elite custa R$ 79 mil. Para quem procura a imponência de um sedã, a marca alemã vende o C-180 por a partir de R$114,9 mil, enquanto os nacionais Toyota Corolla Altis 2.0 e Honda Civic EXS, completos, saem por R$ 89.180 e R$ 88.750, respectivamente.

TAXA SUBSIDIADA A real possibilidade de colocar um importado na garagem não se justifica apenas pelo reposicionamento de preços. A taxa subsidiada por bancos de montadoras também ajuda a decidir a compra. Para fisgar de vez o cliente, há promoções em que é possível fazer o financiamento sem juros. A tentação é grande e muita gente tem caído nela. Só no primeiro semestre de 2010, houve um aumento de 175,3% nos emplacamentos de veículos importados. Neste período, foram vendidos 41,8 mil unidades, contra 15.182 em 2009.

O universitário Felipe Kallas, de 23 anos, foi no embalo do mercado e convenceu a mãe a trocar o seu Peugeot 307, com quatro anos de uso, por um BMW zero quilômetro. “Ter um BMW parecia ser algo distante para mim, mas, quando vi que o preço baixou consideravelmente e a concessionária ainda ofereceu uma boa condição de negócio, consegui fechar a compra”, conta o estudante. O modelo escolhido por Kallas foi o 118i, de entrada da gama BMW no Brasil. Na tabela, o carro custa R$ 99,5 mil, mas, na negociação, acabou saindo por R$ 93 mil, enquanto um Ford Focus Ghia hatch 2.0, por exemplo, poderia sair por até R$ 79.895.

O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Veículos (ABEIVA), José Luiz Gandini, atribui o aumento nas vendas desses importados a uma série de fatores. “A reestabilização da economia, o aumento da renda do brasileiro e o dólar em baixa. Esses acontecimentos fizeram com que mais pessoas tivessem condições de optar por um importado premium no lugar de um veículo nacional de luxo”, afirma.

Felipe Kallas trocou Peugeot 307 hatch por um BMW 118i

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