quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Alternativas em Detroit













O Salão Internacional do Automóvel da América do Norte, conhecido como Salão de Detroit, termina neste fim de semana com um balanço mais positivo do que parece à primeira vista. A ênfase nos temas ambientais outra vez sobressaiu, como em todos os últimos salões, sem deixar de lado a escalada de alto desempenho que continua a atrair consumidores ou simples sonhadores.Sinal dos novos tempos, a Ferrari apresentou sua primeira incursão aos motores a álcool. Nada mais fácil de desenvolver, porém lá estava o 430 Spider Biofuel, com 10% de ganho em potência. Na mesma linha ecológica estreou a marca californiana Fisker: um passo à frente com o Karma, carro esporte híbrido que combina motor convencional e elétrico. Terá preço atrativo de US$ 80 mil, cerca de 50% mais caro que um Corvette. Este, aliás, uma das atrações, na impressionante versão ZR1, de 620 cv.As marcas americanas recuperaram prestígio junto à imprensa especializada americana. Motor Trend, Auto Week e uma associação de jornalistas elegeram, em destaques do ano, Cadillac CTS, nova F-150 e Chevy Malibu. Picape Dodge Ram redesenhada ganhou inteligente compartimento embutido nas laterais da caçamba. GM e Ford revelaram novas estratégias para enfrentar, simultaneamente, escalada de preço da gasolina e emissões de CO2.A Ford anunciou nova geração de motores com injeção direta e turbocompressor, seguindo os passos da Volkswagen na Europa. Dentro do cenário americano, a empresa destacou que essa tecnologia se paga em 2,5 anos com a economia de combustível, enquanto um motor diesel leva 7,5 anos e um híbrido, nada menos de 12 anos. Seria a resposta ao esforço dos europeus em vender lá motores a diesel e aos japoneses, centrados nos híbridos. A Toyota, contudo, admitiu no salão que precisa explorar algo além dessa tecnologia.Por outro lado, a GM anunciou apoio financeiro à pequena empresa de pesquisa Coskata, que pretende produzir álcool a partir de resíduos agrícolas e orgânicos a um preço muito menor e de forma sustentável. Pela primeira vez, um grupo automobilístico se envolve diretamente na obtenção de combustível. GM aposta que um terço do petróleo será substituído pelo álcool nos EUA até 2030.Agora, além dos japoneses, os coreanos se insinuam em novos segmentos. A Hyundai lançou seu primeiro sedã premium com motor V8 e tração traseira. O Genesis tem porte de BMW Série 5 ou Mercedes Classe E e preço bem inferior. O espantoso crescimento dos crossovers (misto de utilitário e station) atraiu a Toyota com o interessante Venza e a Mercedes, com o futuro GLK, de linhas um tanto discutíveis. Já o Passat CC, na moda do cupê de quatro portas, foi muito bem recebido em Detroit.Para o Brasil, além do crossover Ford Edge importado do Canadá, veio a confirmação do atraente utilitário Chevrolet Captiva que, trazido do México sem imposto de importação, terá preço competitivo. O compacto Aveo, produzido na mesma fábrica, poderia chegar também, mas haveria conflito com o Corsa. E o compacto Verve, sucessor do Fiesta, exibido na versão sedã em Detroit (ao lado do hatch), tem tudo para ser produzido em Camaçari (BA) e exportado, para toda a América, da Argentina ao Canadá.RODA VIVAFORD desenvolverá três outras ações de lançamentos este ano, além do Edge: motores flex de 2 litros e os novos Focus hatch e sedã. Mas terá que fazer muitas contas para que o crossover canadense alcance preço atrativo, pagando 35% de imposto de importação. Como o mexicano Fusion chega sem esse ônus, deve ser muito rentável, ajudando no quebra-cabeça financeiro.PARECE que a fábrica de motores paranaense Tritec, hoje parada e pertencendo à Chrysler, está sem muitas alternativas. Fiat desanimou e GM desistiu de negociar. Nova fábrica de motores GM ficará mesmo no estado vizinho de Santa Catarina, onde o governo mais ajuda do que atrapalha. Motores 1,8 l continuarão a ser fornecidos à Fiat, por seu baixo custo, pelo menos nos próximos dois anos.CRESCIMENTO estonteante de 28% nas vendas internas de 2007 sobre 2006 superou o da China e da Argentina, países que vinham em ritmo mais forte nos últimos tempos. Ao longo de 50 anos de história da indústria, fora a fase inicial e a recuperação sobre base comparativa muita fraca entre 1993 e 1995 (plano do carro popular), a aceleração do mercado interno nunca foi tão forte.PRIMEIRA experiência em grande escala de utilização de veículos elétricos será em Israel, em parceria com a aliança Renault-Nissan, em 2011. Motorista pagará tarifa por quilômetro rodado e terá ampla rede de pontos para abastecer. Tornou-se viável porque, nesse país, 90% dos automóveis rodam menos de 70 km/dia, autonomia semelhante à das baterias, pelo menos enquanto são novas.AINDA este ano chegam as etiquetas eletrônicas que vão ajudar a monitorar a frota e o pagamento de impostos por meio de uma rede de antenas. Quanto aos rastreadores via GPS e rede celular, a resistência à implantação obrigatória nas linhas de montagem das fábricas continua muito forte, inclusive de importadores. Pode ocorrer recuo, total ou parcial, por parte do governo. (Texto: Fernando Calmon ).

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