quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Pacote econômico

Seu carro está bebendo demais? Trocando peças simples e baratas, você pode cortar o gasto com combustível até pela metade
Você comprou um automóvel usado porque soube que ele é capaz de fazer 10 quilômetros com 1 litro de combustível. Mas descobriu que ele não está passando dos 7 km/l. Ou, então, você comprou um carro zero e após um ou dois anos de uso percebeu que ele está bebendo bem mais do que quando saiu da concessionária. Em geral o grande culpado é um só: falta de manutenção. Se for isso, a solução é simples e - melhor de tudo - barata.
Às vezes, basta um filtro de óleo entupido para o gasto ser até 20% maior. Caso várias peças tenham problemas, o consumo pode dobrar. Entram nessa lista velas, catalisador e filtros de ar e combustível, sem falar do próprio óleo, que pode estar fora da especificação correta - afinal, não falta motorista que confia mais no frentista que no manual do proprietário.
Os sintomas começam a se agravar por volta dos 50 000 quilômetros, mas podem aparecer já aos 20 000. Tudo vai depender da condição de uso severo (trânsito urbano pesado, excesso de estradas de terra), abastecimento com combustível de má qualidade ou a simples falta de troca de filtros.
"O que acontece é que a pessoa compra um automóvel novo e não faz mais nada. Nem as revisões de autorizada ela respeita. Quando alguém compra esse carro como usado, pode estar levando para casa uma verdadeira bomba-relógio", afirma o mecânico Vinicius Losacco. "O mais curioso é que basta você gastar uns 400 reais para deixar o carro em ordem."
Em parte, esse problema ocorre porque os automóveis estão mais duráveis e, portanto, suportam mais tempo sem a manutenção obrigatória. Mesmo assim, não há milagres. Um filtro de ar, por exemplo, deve ser trocado em média a cada 10 000 quilômetros. "E não vale dar aquela batidinha, não. A sujeira que é acumulada internamente não sai batendo", diz Losacco. Aliás, tanto a tal batidinha quanto o uso de jato de ar comprimido podem provocar danos na estrutura do elemento filtrante.
A mesma displicência se vê com o filtro de óleo, responsável por impedir a circulação de impurezas no motor. "Quem vai vender o carro não está tão preocupado com a manutenção preventiva. Assim, o consumo de combustível a mais causado pelo filtro de óleo sujo pode chegar a 20%", afirma Flávio Sureira Netto, técnico de produto da Mann+Hummel Brasil. O óleo sujo perde suas propriedades de lubrificação, aumentando o atrito entre os componentes móveis dentro do motor. E, assim, ele passa a beber mais.
Principal veneno para o automóvel, o combustível adulterado é responsável pela "asfixia" do motor. Câmara de combustão contaminada, válvulas com folga além do especificado e filtro sujo fazem com que o automóvel perca rendimento. A reação do motorista é automática: pisar mais para compensar a falta de potência. "Checar a abertura da folga da vela determina a qualidade da queima do combustível. Para cada motor, há uma especificação própria", diz Ricardo Namie, chefe da assistência técnica da NGK.
Por fim, um dos itens que mais sofrem é o catalisador, que chega a derreter com o tempo. "Havia uma moda de retirar o catalisador para ganhar potência. Mas esse ganho só acontece a 6 000 ou 6 500 rpm, sem falar que o carro perde torque. E isso se traduz em maior consumo", diz Edson Paixão, supervisor do laboratório de emissões da Umicore.
Vale dizer que tudo é uma reação em cadeia: gasolina batizada entope o filtro, assim como velas ruins com filtros contaminados vão sobrecarregar o trabalho do catalisador. "Aliás, ele é um sofredor. Tudo o que estiver errado antes será descontado no catalisador", afirma Antonio Gaspar de Oliveira, diretor técnico do Sindirepa (sindicato das oficinas de São Paulo). Outro problema do catalisador é a pirataria. "Mais de 80% do mercado é atendido com peça falsa", diz Carlos Eduardo Moreira, gerente de desenvolvimento de negócios da Umicore. As conseqüências extrapolam o consumo alto. Os falsos poluem acima do permitido e causam problemas de saúde. Aí o prejudicado deixa de ser só seu bolso.
RECEITA PARA BEBER MENOS
CAUSA: VELAS
O PROBLEMA: Queima incorreta do combustível, por desgaste ou contaminação, ocasionando folga ou obstrução
QUANTO SOBE O CONSUMO: ATÉ 25%
QUANDO TROCAR: A cada 20 000 quilômetros (uso normal) ou 15 000 (uso severo), na média
QUANTO CUSTA: 30 a 100 reais o jogo, em média
CAUSA: FILTRO DE AR
O PROBLEMA: Pode estar entupido com poeira e outras partículas sólidas, deixando mais rica a mistura ar-combustível
QUANTO SOBE O CONSUMO: 10% A 20%
QUANDO TROCAR: A cada 15 000 quilômetros (uso normal) ou 7500 (uso severo), na média QUANTO CUSTA: 30 a 50 reais, em média
CAUSA: FILTRO DE ÓLEO
O PROBLEMA: Quando contaminado por partículas poluentes e combustível adulterado, aumenta o atrito das peças do motor
QUANTO SOBE O CONSUMO: 10% A 20%
QUANDO TROCAR: A cada troca de óleo do motor
QUANTO CUSTA: 20 a 50 reais, em média
CAUSA: FILTRO DE COMBUSTÍVEL
O PROBLEMA: Se estiver sujo, empobrece a mistura ar-combustível. Além de sobrecarregar a bomba de combustível, ela pode até queimar. Caso isso ocorra, o prejuízo é a partir de 200 reais
QUANTO SOBE O CONSUMO: 20%
QUANDO TROCAR: A cada 10 000 quilômetros (uso normal) ou 8 000 (uso severo), em média
QUANTO CUSTA: 20 reais, em média
CAUSA: CATALISADOR*
O PROBLEMA: Pode ter derretido parcial ou completamente
QUANTO SOBE O CONSUMO: DE 5% A 10%
QUANDO TROCAR: A cada 80 000 quilômetros (uso normal) ou 40 000 (uso severo), em média
QUANTO CUSTA: 300 a 500 reais no mercado de reposição
*Pode até ultrapassar os 100 000 quilômetros, mas ele se deteriora rapidamente quando o motor não está funcionando com a manutenção perfeitamente em dia
CAUSA: ÓLEO
O PROBLEMA: O motor pode sofrer carbonização causada por óleo fora de especificação prevista no manual
QUANTO SOBE O CONSUMO: ATÉ 10%
QUANDO TROCAR: A cada 10 000 quilômetros (uso normal) ou 5 000 (uso severo), em média
QUANTO CUSTA: 45 a 90 reais, em média
CAUSA: ALINHAMENTO E BALANCEAMENTO
O PROBLEMA: Pode Atrito irregular dos pneus com o solo, diminuindo o desempenho. Nesse caso, também há um aumento no desgaste dos pneus
QUANTO SOBE O CONSUMO: ATÉ 10%
QUANDO TROCAR: A cada 10 000 quilômetros (uso normal) ou 5 000 (uso em estradas esburacadas), em média
QUANTO CUSTA: 70 reais, em média
Obs. 1: Na dúvida, siga sempre o manual do proprietário do veículo.
Obs. 2: Uso severo entende-se por tráfego urbano intenso, quando a velocidade média é menor que 10 km/h, ou em estradas de terra muito empoeiradas e esburacadas.

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