sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quem paga a prestação?

Campanha dos bancos pela segurança dos motociclistas está, na verdade, é tentando reduzir o próprio prejuízo
"Popular" - Devagar, bem devagarinho, o carro com motor 1.0 vai perdendo as luzes da ribalta. Depois de atingir espantosos 70% das vendas no mercado doméstico, sua participação caiu esse ano para 42%. O governo federal foi cedendo também devagar, bem devagarinho, e a diferença de impostos caiu para apenas quatro pontos percentuais. O preço de um 1.0 (IPI de 7%) que se arrasta pelas estradas é cerca de R$ 2 mil mais barato que um 1.4 (11%), que oferece desempenho minimamente decente. Diluídos num financiamento de longo prazo, são menos do que R$ 50 na prestação. A Peugeot foi a primeira a derrubar o 1.0, simplesmente deixando de oferecê-lo e substituindo-o pelo 1.4 com mesmo preço. Se o governo imaginar uma tributação intermediária que permitiria eliminar de vez o benefício fiscal do "popular", todas as partes envolvidas sairiam ganhando.
Opções - Inflação em queda é tudo que o governo, os empresários e a sociedade almejam. Só desagrada ao setor dos consórcios, que vê sua curva estatística de vendas despencar em sintonia com os índices inflacionários. Nesse vaivém das opções de compra para quem não paga à vista (hoje no patamar de apenas 30%), o crédito direto ao consumidor (CDC) virou patinho feio, pois a incidência do IOF sobre o valor das prestações tornou mais vantajoso o leasing, isento do imposto. Uma operação que, de fato, não é uma venda, mas um aluguel por prazo determinado, e que dá ao cliente a opção de compra do bem ao final do contrato. Muitos que optam pelo leasing não têm conhecimento desses detalhes do financiamento e ficam bravos lá na frente ao perceber várias limitações dessa operação...
"Up-grade" - Disse outro dia o Sérgio Habib, presidente da Citroën, um dos mais brilhantes empresários do setor: os juros mais baixos e prazos mais longos estão modificando o perfil das vendas dos automóveis brasileiros. E o crescimento do mercado batendo recordes em cima de recordes está mascarando a migração dos clientes para faixas mais altas. Quem comprava os melhores nacionais pulou para os importados. Nesse caso, estimulados também pelo dólar que cada dia vale menos. Os que rodavam com modelos médios como Astra ou Golf subiram para carros maiores como Vectra, Fusion ou Jetta. E a escada continua: quem dirigia compacto assumiu o volante de um médio, e os que se contentavam com os "populares" migraram para os compactos.
E daí para baixo? Quem rodava de usado passou para o popular. Os motociclistas procuram hoje os usados. E quem usava o ônibus já paga a prestação da moto...Aliás, segundo o Habib, ele se admirou com uma campanha publicitária de bancos focando a segurança dos motociclistas. Ele se encontrou com um diretor da associação do setor (Febraban) e elogiou a campanha. E a resposta foi: "Tínhamos que fazer. O índice de acidentes com mortes de motoqueiros não pára de crescer. E a gente deixa de receber a prestação..."

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