sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Quadro complicado

Visitar salão do automóvel no exterior significava alegria
Foram-se os tempos em que visitar um salão do automóvel no exterior significava alegria e um pouco de tristeza. Alegria pelo fascinante desenvolvimento dos automóveis em termos técnicos, de segurança, menores emissões, estilo. E certo grau de desânimo pela constatação de quase nada que estava ali como premiere poderia ser fabricado no Brasil ou em sociedade com a Argentina. Graças ao vigor do nosso mercado o cenário mudou nos últimos anos e se cristalizou no Salão de Paris, a mostra automobilística internacional que mais atrai visitantes e se encerra em 19 de outubro.Em horizonte de dois a três anos seis produtos devem ser produzidos, mesmo com alterações. Quem menos escondeu o jogo foi a Citroën. O C3 Picasso chega em 2010 como o mais moderno monovolume compacto e desenho audacioso. Destaca-se pelo pára-brisa com extensões laterais e grande modularidade interna. Confirmando o antecipado nessa coluna, a primeira versão seguirá o conceito aventureiro (sem suspensões elevadas, mas com estepe externo). Renault admitiu estudos para o novo Mégane III, um hatch que impressionou na feira francesa por suas linhas avançadas e sem qualquer vínculo com o discutível esteticamente modelo anterior. Ainda teremos o sedã, a station e, talvez, o novo Scénic – surgirão só nos próximos salões internacionais.Recém-lançado na Europa, o Golf VI mostra evolução contida em termos estilísticos. A Volkswagen preferiu investir em conteúdo tecnológico e silêncio a bordo para tentar garantir seu impressionante histórico de liderança absoluta na Europa. A versão GTI, de 2 portas, 210 cv, será importada, mas o quatro-portas, fabricado no Paraná, apesar dos desmentidos. O sedã médio-compacto Chevrolet Cruze servirá de base para o sucessor da gama Astra/Vectra no Brasil, mas o desenho original, ainda que atraente, será modificado para a América do Sul.Com a anunciada fábrica do maior grupo sul-coreano no Brasil, dois produtos estreantes em Paris surgem como prováveis escolhidos. O compacto de quase 4 metros de comprimento, Hyundai i20, tem a tudo a ver com o nosso mercado: estilo moderno e bom espaço interno. Deve sofrer modificações para contenção de custos. Já o Kia Soul é um monovolume compacto, quase um crossover por seus traços inspirados em utilitários esporte, que deve partilhar a linha de montagem de Piracicaba (SP).O Salão de Paris foi contagiado pelo clima de incertezas da crise financeira, mas não deixou de trazer várias atrações. Desde o subcompacto Ford Ka, que divide arquitetura e fábrica com Fiat 500, até o surpreendente Lamborghini Estoque, primeiro cupê de quatro portas da marca italiana do conglomerado VW. Trata-se de um protótipo que colide com o futuro Panamera da Porsche, controladora do grupo: sairá mesmo?O carma dos europeus com o gás carbônico (CO2) e o efeito estufa também deram o tom. Há evidente exagero no tema, impostos graduados por CO2 já na França e uma guerra de números com fabricantes destacando conquistas ambientais, apesar dos automóveis responderem por apenas 10% das emissões no mundo. Um quadro complicado e agravado pelo inevitável aumento de custos. Ponto positivo é que menos CO2 significa também menos consumo de combustível.
Roda Vida
EXERCÍCIO de estilo – picape diferenciada – sobre o Sandero será a principal atração da Renault no Salão do Automóvel de São Paulo (30/10 a 9/11). Jerome Stoll, presidente da filial brasileira, destaca que se trata do primeiro modelo conceitual desenvolvido pelo Centro de Desenho Américas, instalado recentemente na capital paulista.
SETEMBRO ainda foi muito bom para o mercado interno. Comparado com o mesmo mês do ano passado, as vendas subiram 32%, e 10% em relação a agosto deste ano. Anfavea mantém previsões para 2008: recorde de pouco mais de 3 milhões de unidades (todos os segmentos). Crescimento seria de 24% em relação a 2007. Produção, que inclui exportações, chegaria a 3,2 milhões.
JACKSON Schneider, presidente da Anfavea, foi muito firme no balanço mensal do setor. Para ele existirão reflexos moderados da crise externa no ritmo de comercialização. Férias coletivas parciais na GM e na Fiat estariam mais ligadas à queda das exportações. Admitiu, porém, que juros já subiram e há tendência de encurtamento dos prazos de financiamento. Mercado continua bom, nos primeiros dias de outubro.
PESSIMISMO, de fato, só atrai mais pessimismo. Está difícil analisar se o índice de confiança do consumidor vai levá-lo a adiar compras ou se, ao contrário, é motivo de antecipação para escapar de preços e condições menos favoráveis em curto prazo. Prestações respondem por cerca de 70% das vendas e aí impactos podem ocorrer. Próximos 30 dias deverão revelar o panorama para 2009.
CRESCENTE uso de turbocompressores – além dos motores diesel agora também a gasolina – levaram Bosch e Mahle a unir forças em produção e desenvolvimento, já a partir de 2010, na Europa. Ênfase total na diminuição de cilindrada e consumo.

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