segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Reparo - Depois da tempestade, o martelinho


Chuva de granizo atingiu a região metropolitana na última semana e deixou estragos em toda a cidade. Concessionárias, oficinas e até fabricante tentam diminuir o prejuízo

Os irmãos Edilio e Iraildo Meira Dutra viajam o mundo para reparar danos provocados pela chuva. Os visíveis estragos na lataria dos veículos expostos à última tempestade de granizo na Região Metropolitana de Belo Horizonte modificam a rotina de quem trabalha com reparo de automóveis e pode gerar boas oportunidades de negócios para o consumidor. Os carros que estavam no pátio da Fiat, em Betim, e foram danificados, estão separados até conclusão de acordo com a seguradora para ter o destino definido. Na concessionária Volkswagen Catalão, cerca de 80 carros, dos 190 em estoque, foram danificados. O diretor comercial da revenda, João Carlos Vioti, garante que vai reparar os veículos, informar o consumidor no momento da venda que aquele carro foi danificado e será negociado desconto no preço sugerido de tabela.Vioti explica que a revenda contratou duas equipes de martelinhos de ouro, que vieram de São Paulo, para recuperar os carros da concessionária e dos clientes. A mesma tática foi adotada pela Concessionária Chevrolet Jorlan, que trouxe da Bahia os irmãos Meira Dutra. Edílio e Iraildo Meira Dutra são de Iguaí (BA), e por causa das tempestades de granizo eles e os outros seis irmãos da família já rodaram boa parte do mundo: Grécia, onde recuperaram cerca de 5 mil carros para a Nissan; 25 mil veículos para a Hyundai na Turquia; além de Alemanha, Austrália, Holanda, Suíça, Espanha e Argentina.Edílio e seu irmão Iraildo estão fazendo o serviço para clientes da revenda Chevrolet. Outros dois irmãos estão em Betim, a serviço de uma transportadora. Mais três irmãos estão na Croácia, e o último ficou responsável por uma das lojas, na Bahia. Os irmãos Meira Dutra atuam em um nicho que o esmero no trabalho é valorizado, pois grande parte das concessionárias e fabricantes não tem pátio coberto para os veículos e aquelas que não venderem carros avariados, com certeza precisarão de repará-los com capricho antes de comercializá-los.Em suas empreitadas ao redor do mundo, os irmãos Meira Dutra trabalham com outras equipes, de diferentes países. Iraildo, de 33 anos, aprendeu o serviço há 15 anos com um argentino, que por sua vez aprendeu as técnicas nos Estados Unidos. O martelinho de ouro consiste em reparar o estrago de dentro para fora, sem precisar de lanternagem ou pintura. A média de Iraildo e Edílio são dois carros recuperados por dia.Eles usam ferramentas importadas para reparar partes de difícil acesso e também contam com lâmpadas que não geram calor, pois podem visualizar os estragos sem danificar a pintura. Além disso, usam espécies de ventosas, que possibilitam, com a pressão puxar o furo pelo lado de fora, principalmente em locais em que acesso é muito complicado, como as colunas. Iraildo classifica os estragos de uma chuva de granizo em três categorias: A, B e C, sendo o último o mais grave, que é provocado por pedras grandes e deixa sulcos profundos na lataria. De acordo com a análise de Iraildo, na chuva da semana passada vários danos podem ser classificados como tipo C.Os irmãos acompanham as nuanças do clima pela internet e pelo noticiário da televisão e dizem que torcem pela tempestade. "Não queremos que ninguém morra, mas quanto mais carros ficarem estragados é melhor", brinca Edilio. A profissão é lucrativa, pois os três irmãos que estão na Croácia, por exemplo, conseguem cerca de 4 mil euros por dia (R$ 10,5 mil), reparando quatro veículos por dia.Falta de pára-brisaNo Centro Automotivo Sem Risco, o proprietário Gilberto Amorim não contratou profissionais novos, pois explica que para trabalhar com esse tipo de reparo é necessário muito treinamento. A saída encontrada foi agendar os reparos. O cliente precisa esperar cerca de 10 dias, mas em alguns casos leva-se mais tempo. "Para alguns veículos não há pára-brisas no mercado de reposição e é preciso esperar. Os carros importados, principalmente, são os mais complicados", conta Amorim. A média dos reparos custa por cliente entre R$ 800 e R$ 2 mil, dependendo do estrago. Na última semana, o volume de procura aumentou 400%, passando de 15 para mais de 60.

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