quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Usados - Mercado espera reação em abril

Veículos tidos como seminovos sofreram com a crise e a própria facilidade de venda dos zero-quilômetros. E, para especialista, recuperação só começa com o fim do IPI reduzido

Emmanuel Pinheiro/EM/D.A Press
O mercado de veículos usados, principalmente com dois ou três anos de uso, os quais o setor convencionou chamar de seminovos, vem sofrendo desde o estouro da crise econômica mundial, em setembro do ano passado, e deve continuar em retração até abril, mas 2010 deverá ser um ano bom. É o que prevê o consultor de grupos do segmento automotivo Valdner Papa, também professor e coordenador de cursos de pós-graduação e MBA em Gestão de concessionárias em faculdades de São Paulo. Durante o 10º Encontro Estadual dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais, realizado durante a Bienal do Automóvel, ele falou sobre os altos e baixos do setor.

“O que era um instrumento a favor do mercado está virando contra”, comenta Papa, referindo-se às constantes prorrogações de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A mais recente, válida somente para os carros flex — mas que já são a maioria no mercado de zero-quilômetro —, estendeu o benefício fiscal até março, mantendo o imposto dos automóveis 1.0 em 3% e dos que têm motor entre 1.1 e 2.0, em 7,5% (duas altas gradativas já haviam ocorrido até novembro). A redução do IPI para o carro novo foi um dos fatores que afetaram o mercado de usados, principalmente com até três anos de uso, tendo em vista a proximidade de preços.

"Acredito que, se não houver mais prorrogação em março, a partir de abril (quando o imposto chegará a 7% para os 1.0 e a 11% para os até 2.0) a situação deverá ser alterada. Até lá, enquanto o mercado estiver aquecido para os novos, os seminovos que têm de um a três anos de uso continuarão sofrendo", afirma o consultor, ponderando que os veículos mais velhos sofrem menos as consequências.

Preço

Antes da queda do IPI, com a crise já havia surgido o problema da redução de crédito por parte dos bancos, o que também prejudicou drasticamente os usados, retraindo os financiamentos e aumentando os estoques. "Todo o fenômeno pegou a rede no contrapé. Veio a crise e a paralisação do usado e a concessionária começou a ter dificuldades no escoamento", continua Papa. A forte consequência foi a queda imediata de preços dos usados, que chegou a 27%, segundo Papa. Com isso, muitos consumidores deixaram de entrar com o usado na troca, no momento da compra do novo, prejudicando também o giro dos estoques.

Mas esse cenário já está sendo invertido. "A baixa entrada dos usados gerou ajustes de estoques. Aquele considerado um carro bom, que o cliente sabia que teria facilidade de vender, deixou de entrar, ficou escasso para os concessionários. Mas já vem voltando paulatinamente", diz. Papa lembra que a média de captação do carro usado na troca, que era de 62%, caiu para 37%. Porém, em setembro, o índice já voltou a subir para 57%.

Além disso, o especialista prevê que a concessão de crédito tende a melhorar. Papa acredita que o mercado de usados deve começar a se estabilizar em 2010, e acrescenta que 2010 e 2011 deverão ser mais fortes para o setor.

Influências

Os lançamentos de veículos novos, que também vêm acontecendo com mais frequência desde 2008, são outro fator com influência direta no mercado de usados, na opinião do especialista. "Quando um veículo novo é lançado, acontece a queda imediata no preço de seu correlato. E isso continuará existindo. Ocorre uma queda crítica no preço em cerca de seis meses, depois começa a recuperação", alerta.

Ainda para Papa, é preciso que ocorra no mercado de veículos usados uma oportunidade, mesmo na crise, como vem ocorrendo nos EUA, onde a sobrevivência do setor está ocorrendo por meio dos negócios com usados e pós-vendas. Para isso, no entanto, é preciso ter foco e maior profissionalismo, com controle dos estoques e perfil do cliente. "É preciso saber o que o consumidor procura: modelo, marca, ano, preço, tudo. E a maioria dos lojistas não tem controle de nada", pondera.

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