terça-feira, 11 de novembro de 2008

Rastreamento - Fora do mapa

Crown Telecom fecha as portas, mas garante manter contato e ressarcir clientes. VW tem responsabilidade solidária sobre equipamentos instalados nas concessionárias
A falta de contato e conseqüente sensação de desamparo acompanha clientes da empresa mineira de rastreadores de veículos via satélite (GPS) Crown Telecom há quase um ano. Com problemas desde o fim de 2007, depois de ter rompido contrato de fornecimento do serviço por parte da Volkswagen do Brasil, a Crown acabou fechando as portas em meados deste ano. Sentindo-se lesada pela companhia canadense WebTech Wireless (WEW), especializada em GPS, da qual era distribuidora exclusiva no Brasil, e a quem acusa pela quebra do contrato com a VW, a Crown busca na Justiça o ressarcimento dos prejuízos, avaliados em cerca de US$ 67 milhões (R$ 108 milhões calculadas na época do início da ação, em maio). Com a quantia pleiteada, espera ressarcir clientes e fornecedores, além de resolver seu passivo trabalhista. Em primeira instância, a Crown já obteve sentença favorável.A história começou em 2003, quando a Crown Telecom foi uma das pioneiras no serviço de rastreamento via satélite no Brasil. Dois anos depois, passou a ser a distribuidora oficial no país dos equipamentos WebTech e vendia o serviço diretamente ao consumidor final, sendo o aparelho fornecido a título de comodato. Com o crescimento da empresa e o aumento da demanda pelo rastreamento de veículos no Brasil, veio o contrato com a Volkswagen. A partir de dezembro de 2006, os rastreadores passaram a ser equipamento de série em praticamente todos os modelos da marca. Além disso, também podiam ser instalados dentro das concessionárias.
Rompimento
O contrato com a VW, de acordo com a Crown, era de dois anos. Distribuidora WebTech, a Crown fornecia os equipamentos à fabricante alemã, que os disponibilizava em seus modelos. Mas, seis meses depois, em junho de 2007, quando mais de 60 aparelhos já haviam sido vendidos, foi surpreendida com uma quebra de contrato pela Volkswagen. "O crescimento do mercado automotivo foi muito grande. Tínhamos a previsão de instalar 400 mil peças, mas a demanda da VW era de 560 mil. Isso gerou um certo estresse e a WebTech quis aproveitar a oportunidade para assumir diretamente esse contrato. Mas isso não pode ser feito, é uma interferência em contratos de outros", desabafa o fundador e presidente da Crown Telecom, José Antônio Pereira Júnior.E esse é o motivo central da ação movida contra a WebTech, cujos argumentos já foram inicialmente aceitos pelo juiz Geraldo Senra Delgado, da 24ª Vara Cível de Belo Horizonte, em sentença proferida no mês passado. A WebTech contestou a decisão e, no momento, os autos encontram-se conclusos para despacho.
Lesados
José Antônio Júnior alega que todas as reclamações de clientes que, até o momento, chegaram a seu conhecimento foram atendidas e afirma que está aberto a responder a todos os questionamentos (pelo e-mail presidencia@crowntelecom.com.br). A disponibilidade pode responder a anseios como o da técnica têxtil Lúcia Sarmento Gama Fogli, que comprou um VW Gol com o rastreador Crown exatamente em dezembro de 2006, em São Paulo. "A VW oferecia o serviço gratuito por um ano. Exatamente um ano depois, em janeiro de 2008, recebi um boleto de R$ 500 para a renovação e paguei, pensando que a manutenção do serviço estava em ordem. Mas depois ligaram querendo cobrar de novo, dizendo que eu não havia pago. Liguei para a concessionária VW e eles disseram que não havia mais vínculo", conta. Lúcia tentou contatos com a empresa, em vão.Menos sorte teve o dentista Bruno Castro Ferro, de Jaguariúna (SP), que teve o veículo furtado em julho. "Procurei a Crown de todas as formas, busquei informações na internet e vi que muita gente estava reclamando. Descobri até um telefone que seria do dono, mas não deu em nada", lembra Bruno, dizendo que, se o rastreador estivesse funcionando, provavelmente o carro teria sido recuperado. Em Belo Horizonte, logo no início das reclamações contra a Crown, Veículos mostrou o drama do empresário Rodrigo Aguiar (reportagem publicada em 13 de fevereiro de 2008), dono de quatro carros supostamente rastreados pela empresa com a qual ele não conseguia mais contato. Rodrigo teve uma Kombi furtada logo depois da reportagem e prejuízo, com a carga, de R$ 80 mil. "Cheguei a ir no escritório deles, que ainda estava funcionando, e me propuseram o ressarcimento do que eu havia gasto com o equipamento, mas o prejuízo que tive com o furto da carga foi muito maior", acrescenta.
Justiça
Para os consumidores lesados com a suspensão do serviço, claro que a tentativa ideal é um novo contato com a empresa. Mas, não surtindo efeito, a solução pode estar na Justiça. Segundo o advogado Geraldo Magela Freire, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Minas Gerais, todos os consumidores que adquiriram o serviço antes do rompimento do contrato entre VW e Crown têm direito garantido por lei e a VW responde solidariamente (artigos 7º e 25º do Código de Defesa do Consumidor). Como o valor é baixo, a questão pode ser resolvida nos Procons.A coordenadora do Procon Municipal, Stael Riani, acrescenta que, conforme o tipo de contrato, também a concessionária que vendeu o carro e/ou instalou o equipamento pode ser responsabilizada. Já com relação à Crown, ela explica que a situação é mais complicada, já que a empresa não tem endereço para ser localizada. A questão teria de ser resolvida na Justiça comum, por meio de penhora eletrônica de bens, se ainda não foi decreta a falência, ou habilitação de crédito da massa falida, no caso de falência decretada. A VW informou que não vai se pronunciar sobre o assunto, já que se encontra na esfera judicial.
Endereço
No prédio em que funcionava a sede da Crown Telecom, na Avenida Raja Gabaglia, 1.781, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, a informação é de que o andar antigamente destinado à empresa foi desocupado há cerca de quatro meses e, atualmente, já pertence a outra firma. Desde fevereiro, a central de atendimento não atende mais ligações e a página da empresa na internet (www.crowntelecom.com.br) atualmente exibe comunicado, em inglês, informando sobre o processo contra a WebTech.

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