quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tecnóloga mostra força da mulher na linha da Iveco

Patrícia Vilaça deixa salto e saia para o final de semana e no dia-a-dia coloca a mão na graxa na linha da Iveco

Quando foi o Dia Internacional da Mulher? 8 de março. Essa foi fácil. Mas, é apenas nesse dia que se deve comemorar a importância das mulheres na sociedade? A maioria tem certeza que não. Por isso, WebMotors aproveita o mês “oficial” de comemoração à mulher e apresenta mais uma matéria da atuação feminina no setor de transportes. Dessa vez, a personagem é Patrícia Vilaça, tecnóloga Industrial Júnior da fábrica da Iveco, em Sete Lagoas (MG). Ela é mais uma vencedora da classe no setor.


Patrícia Vilaça é uma das poucas mulheres a atuar como tecnóloga na fábrica da Iveco. Tem 32 anos e nasceu em BH. Tem personalidade forte, mas deixa de lado seu lado Patrícia e convive apenas com a tecnóloga durante o dia. Nada de saia ou salto.

“Aviso a todas as mulheres que chegam aqui para trabalhar que saltos e saias estão proibidos. Estamos em uma linha de montagem e aqui é preciso se adaptar ao meio, gostar de graxa e sapato de segurança”, brinca, mas dando uma mensagem direta.

Patrícia sabe bem que o trabalho no setor de transportes não é fácil, mas quem pensa que isso a desestimula está enganado. “Se você deixa de lutar é sinal de que seus sonhos acabaram. Uma vez alcançado o objetivo, não deixe que as pessoas te vejam como mascote, mostre que você é tão profissional quanto ela, independente do seu sexo”, diz.

A frase pode ser um belo incentivo a quem deseja entrar neste segmento, praticamente 90% masculinizado. Mas, as mulheres estão chegando e conquistando espaços. Seja na linha de montagem, ou na supervisão ou em cargos mais altos.

No caso da Iveco, não há nenhuma mulher num cargo acima de gerência, mas isso também não é problema para Patrícia. É mais do que um incentivo.

Nada convencional

Aliás, desafios são bem-vindos para esta mineirinha. “Nunca busquei uma formação convencional. O diferente sempre me atraiu”, afirma. E o diferente a fez se tornar uma diferente em meio a 46 homens.

“Quando fiz o curso técnico em Mecânica Industrial no Sistema de Arquidiocesano de Contagem (MG), dos 50 alunos em classe, apenas quatro eram mulheres. Sabia que teria duas situações para enfrentar: o preconceito e aceitação por parte da figura masculina”.

A carreira nada convencional começou na Fiat Automóveis. Na planta de Betim, ela trabalhou de 1995 a 1997. Um ano depois, apareceu o convite da Iveco, marca da Fiat, que voltava dez anos depois ao Brasil para fabricar caminhões e muito provavelmente, ônibus a partir de 2010. Era um grande desafio que nascia para ambas.

A primeira mulher da linha

Patrícia Vilaça se tornou, então, a primeira mulher a integrar a linha de produção da Iveco. Acerta quem arrisca um palpite sobre o começo da carreira. “Foi difícil”.

Certa vez, precisou se impor para ser respeitada como profissional. “Como meu trabalho consiste em descrever métodos e procedimentos eficazes ao operador para que o mesmo ganhe tempo de produção na hora de montar cada componente sem que para isso precise colocar a mão na massa, encontrei resistência por parte de alguns em se importar com o que dizia ou ensinava”, relembra Patrícia.

Houve também casos em que ela precisou atuar como no chão-de-fábrica. “Já apertei parafuso. Outra vez, ajudei um profissional a apertar o suporte porta-roda step do Daily. Recentemente, subi no Trakker (caminhão fora-de-estrada da marca), para ensinar como posicionar corretamente determinada peça”, sorri.

Perfeccionismo feminino

Preocupada em oferecer um trabalho o mais próximo da perfeição, Patrícia atua em conjunto com engenheiros do Centro de Desenvolvimento de Produto para conhecer a estrutura de cada veículo, ser capaz de interpretar os desenhos que lhe são enviados e desmembrar o conjunto de peças que compõem os caminhões médios e pesados.

“Só depois desse estudo é que levo as informações já codificadas às unidades operativas e as repasso aos chefes de operações. Muitas vezes somo forças com os operadores que opinam inclusive sobre que ferramenta utilizar na hora de montar uma peça”, resume.

Por falar em unidades operativas, Patrícia já visitou outras fábricas da Iveco pelo mundo. “Conheci as plantas da Espanha, Itália e Venezuela”, se orgulha.

“Aprendo muito trabalhando na Iveco. Além da sensação gostosa de me sentir um pouco mãe dos caminhões que vejo nas ruas, tenho a oportunidade de atuar como
coordenadora e auditora do sistema de gestão de qualidade. Além disso, pertenço ao Comitê de Comunicação, outra área pela qual sou apaixonada”, revela.

Se alguma mulher ainda tem dúvida se saia ou salto atrapalha a carreira no setor de transportes, pode começar a repensar seus pensamentos. Desbravadora, Patrícia Vilaça demonstra que para trabalhar numa montadora de caminhões, saia, saltos, maquiagem e cabelos bem tratados, são apenas detalhes. Detalhes que, também, definem a personalidade de um caminhão.

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