quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O carro-isca

Veja as dicas para não cair no golpe dos anúncios enganosos
Se os anúncios são sua principal fonte de pesquisa ao comprar um carro, tome cuidado. Nesses tempos de promoções, as lojas anunciam em jornais ofertas que parecem negócios imperdíveis. O problema é que nem sempre o carro anunciado existe. O administrador Paulo Braga, de Florianópolis (SC), ficou indignado ao descobrir isso na prática. “Quando você chega à concessionária, é sempre a mesma desculpa: esse carro já foi vendido.” Se a pergunta é quando haverá outro como aquele, a resposta vem pronta. “Ah, leva de 60 a 90 dias, mas não podemos garantir o preço. No entanto, temos outros modelos com mais opcionais, por uma diferença pequena”, dizem os vendedores.
Para saber como essa “pegadinha” funciona na vida real, conferimos quatro anúncios publicados num jornal de sábado, de revendas Fiat, Ford, Chevrolet e VW em São Paulo. Primeiro ligamos e perguntamos se havia o carro para pronta entrega. “Sim”, disseram todos os vendedores. No mesmo dia fomos à loja e, como se fôssemos um cliente comum, procuramos a mesma pessoa que nos atendeu por telefone.
A impressão foi de que todos tinham combinado as respostas: “Acabei de vender o último Celta”, disse o vendedor da Carrera Butantã (Chevrolet). “Mas era 2009, agora vou lhe oferecer o 2010, por 34 reais a mais por mês”, disse. Na Itavema Moema (Fiat), havia um Punto ELX Flex 1.4 09/10, mas pessoalmente... “Tem, mas com chave canivete, que fica uns 500 reais a mais”, disse a vendedora. Na Superfor Pinheiros (Ford), a vendedora dizia que havia um Ka igual ao anunciado. Chegando lá, veio a desculpa: “Tinha, mas acabou. Os básicos são os que vendemos primeiro”.
Porém foi na autorizada Frankfurt (VW) que descobrimos qual é o segredo. “Não tenho o Gol do anúncio, mas posso vender um semelhante, pelo mesmo preço”, afirmou o vendedor. “Mas e a versão do anúncio?”, perguntei. “Ah, é só um chamariz para você vir até aqui”, disse ele, sorrindo.
“Se um anúncio oferece algo e depois não cumpre, é propaganda enganosa”, afirma o diretor de fiscalização do Procon-SP, Paulo Arthur Góes. “O consumidor pode exigir que a loja entregue o carro nas condições que estão descritas. Caso receba um não, pode lutar por seus direitos: guarde o anúncio e entre com ação na Justiça pelo cumprimento da publicidade.”
Identificar essas armadilhas não é fácil, mas há um padrão: em geral trata-se de versões de entrada, sem opcionais, com preços tentadores. Na loja, vão lhe oferecer um modelo semelhante, um pouco mais caro. Para evitar dor de cabeça, ligue antes e diga que você só vai ao local se o carro estiver lá. E peça para o vendedor confirmar se o veículo por acaso não acabou de ser vendido.

MENTIRA A PRESTAÇÃO
Muito cuidado também com os anúncios de financiamentos. Segundo Maria Inês Dolci, coordenadora da associação de defesa do consumidor Pro Teste, em anúncios de carros financiados é preciso constar o Custo Efetivo Total (CET) do veículo, com taxa de juros, versão específica, valor total do automóvel, do valor a prazo, descrição se é pintura metálica ou não, Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Taxa de Cadastro (TC). Além disso, é preciso especificar o total de unidades à venda e qual o prazo da promoção. Veja um exemplo verídico: um Fiesta Hatch 1.0 num anúncio de jornal da concessionária Forte era vendido em 60 parcelas de 699 reais. Mas, na verdade, o valor real de cada prestação saía 792 reais – isso porque no anúncio não foi incluída nem a TC (que é de 782 reais) nem o frete (1 000 reais, já que o modelo é produzido em Camaçari, na Bahia). Fique atento.

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