quinta-feira, 1 de julho de 2010

Como anda o Mercedes-Benz S400 híbrido

Primeiro modelo do gênero a chegar ao Brasil enfrenta Lexus LS600h

Para 2010, o Mercedes-Benz Classe S ganha um inédito trem de força híbrido, clara indicação de que esse fabricante está migrando de uma abordagem estritamente a diesel quanto à eficiência e reconhecendo o valor de híbridos como um passo essencial no caminho da propulsão elétrica. E tem mais: o Mercedes S400 Hybrid é o primeiro carro híbrido em produção no mundo a usar baterias de íons de lítio (o Tesla Roadster é movido exclusivamente por essas baterias), e também será o pioneiro do gênero a chegar ao mercado brasileiro até, no máximo, o mês que vem. A propulsão híbrida não é novidade, mas ainda é rara em veículos de luxo, uma classe na qual o Lexus LS600hL está sozinho há dois anos.

Os sistemas da Mercedes e da Lexus não seriam mais distintos entre si caso houvessem sido projetados em planetas diferentes. A abordagem da Lexus adiciona uns 30 mil dólares ao preço do sedan, sem falar nos quase 300 kg em comparação com o LS460L convencional. Esses dólares e quilos a mais incluem sistema de tração integral, motor elétrico de 224 cv, baterias de hidreto metálico de níquel e motor V8 5.0 litros. Carregado até a tampa, o LS600hL é o sedã líder da Lexus, projetado para oferecer o desempenho de um V12 com a economia de um V8.

A Mercedes tomou um caminho completamente diferente – com menos peso e complexidade. Semelhante em essência ao sistema híbrido Motor de Assistência Integrado da Honda, a configuração da Mercedes tem um motor elétrico compacto em forma de anel encaixado entre o motor a combustão e a transmissão automática convencional. Como a Lexus, a Mercedes utiliza frenagem regenerativa e desligamento do motor em paradas para reduzir o consumo. Embora o Lexus possa se deslocar alguns metros a velocidades muito baixas com o motor desligado, essa função não está disponível no S400. A Mercedes tampouco oferece a tração integral 4Matic nesse híbrido.

New York Times Syndicate

Em vez de prometer desempenho semelhante ao Classe S com o motor maior, a Mercedes optou por apresentar seu modelo híbrido como uma maneira mais ambientalmente consciente de viajar com luxo. O S400 híbrido deve ter preço próximo aos 90 mil dólares nos Estados Unidos (equivalente a cerca de 160 mil reais) do S550 V8. Ele usa o S350 europeu como ponto de partida, então há um motor de seis cilindros escondido sob a estrela de três pontas. O V6 de 3.5 litros produz 279 cv, o mesmo que do V8 básico de 2006, a última ocasião em que um Classe S foi vendido para clientes americanos com seis cilindros. E aquele V8 não tirava vantagem de um motor elétrico adicional.

O V6 é semelhante aos propulsores 3.5 encontrados em outros carros e crossovers, mas essa versão tem cabeças de pistões e de cilindros diferentes. Ele também usa o ciclo Atkinson, uma abordagem comum em híbridos. O ciclo Atkinson usa válvulas de admissão com atraso de fechamento para prolongar o tempo de expansão visando maior eficiência. O único sacrifício é alguma perda de torque, especialmente em baixas rotações.

E é aí que o sistema híbrido entra. O motor elétrico do S400 contribui com até 16,3 kgfm de torque, mais do que compensando a perda com o ciclo Atkinson. Na verdade, a potência total do sistema é declarada em 299 cv e 39,2 kgfm, superando os 272 cv e 35,6 kgfm de um Classe C com motor V6 3.5.

Como resultado, o S400 Hybrid, diz a Mercedes, atinge os 100 km/h em cerca de sete segundos, mas ele não chega perto da marca quase esportiva do S550, que leva apenas 5,4 segundos. O retorno em economia de combustível, porém, é considerável. A Mercedes estima que o S400 fará 9,8 km/l na cidade e 14 km/l na estrada. O segundo valor nos soa otimista, mas, mesmo se o S400 tiver um consumo combinado de 10,5 km/l, será uma economia de quase 50% em relação ao V8. E, vamos admitir, quantos donos de sedãs de luxo realmente precisam de toda a potência prodigiosa de um V8?

New York Times  Syndicate
O máximo de conforto pode ser conferido tanto no Lexus...

A Lexus diria que todos eles – e, seguindo essa lógica, o LS600hL não perde nada em desempenho para o LS convencional. A potência total do sistema é de robustos 444 cv, suficientes para disparar o LS a 100 km/h em 5,5 segundos, de acordo com a Lexus. Isso é apenas 0,1 segundo mais lento do que a versão convencional, mas o Lexus mais caro atinge um consumo combinado de 8,93 km/l nos testes, superando o LS460 de tração integral em 1,28 km/l.

O Lexus sofre em uma área onde a Mercedes passa ilesa – capacidade de carga. As grandes baterias de hidreto metálico de níquel e o sistema de ar-condicionado extra, necessário para mantê-las resfriadas, reduzem o espaço do porta-malas de 510 para apenas 331 litros. A Mercedes conseguiu encaixar seu conjunto de baterias de íons de lítio menores e com maior densidade energética – trinta e cinco células cilíndricas fornecidas pela francesa Saft – no compartimento do motor, deixando os 461,5 litros do porta-malas intactos.

Na estrada, o Lexus de alguma forma consegue ser ágil e ligeiro; ele é um supersedã atipicamente responsivo apesar de ser um peso-pesado. Ele combina uma resposta muito energética do acelerador com freios muito fortes e uma segura combinação de aderência e tração, embora sofra com chassis um tanto soltos, direção andrógina e um nível de conforto que varia quase aleatoriamente entre macio e áspero.

New York Times Syndicate
...quanto no Mercedes Classe S, o topo de linha da marca

O maior benefício do sistema híbrido da Lexus é sua suavidade. Os dois motores elétricos e os dois conjuntos de engrenagens planetárias permitem que o V8 fique parcialmente ocioso exceto durante aceleração forte. No fim das contas, o LS600hL pode não ser mais rápido do que o LS convencional, mas usa sua potência muito mais facilmente.

O Mercedes, em contraste, parece um Classe S V6 normal. Os dois carros se comportam de formas tão diferentes que você nota que não é uma batalha sobre qual é o melhor sedã, mas um confronto entre duas filosofias. O Lexus chegou admiravelmente cedo ao mercado, mas subitamente parece que o sistema mais elegante do Mercedes colhe aproximadamente os mesmos benefícios.

De fato, há rumores de que esse sistema híbrido será equipamento padrão em toda a linha na próxima geração da Classe S, marcada para estrear no final de 2012. A Mercedes também tem um sistema híbrido de dois modos chegando em dezembro com o ML450, e estamos confiantes que a Lexus tenha mais algumas cartas híbridas na manga. Então, qual prevalecerá? Será que veremos mais híbridos de luxo com propulsores bem-resolvidos, ou o modelo da Lexus vai prevalecer? A resposta não está totalmente clara, mas em uma coisa você pode apostar: os híbridos chegaram para ficar.


Nenhum comentário: